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Image de capaEstou sendo Acusado de Estupro de Vulnerável: Entenda o Crime e Como se Defender

Estou sendo Acusado de Estupro de Vulnerável: Entenda o Crime e Como se Defender

Neste artigo, vamos explicar o que caracteriza o estupro de vulnerável, quais são as principais teses defensivas e como agir diante de uma acusação desse tipo.

David Vinicius do Nascimento Maranhão

Ser acusado de estupro de vulnerável é uma das situações mais graves que alguém pode enfrentar no âmbito penal. Esse tipo de acusação traz consequências jurídicas, emocionais e sociais extremamente sérias, afetando não só o acusado, mas também sua família e seu círculo social.

Muitas vezes, a simples acusação já provoca estigmatização, perda de emprego, rompimento de vínculos afetivos e grande desgaste emocional. Por isso, é fundamental conhecer o que diz a lei, entender como funciona o processo e saber quais medidas devem ser adotadas para garantir uma defesa eficaz.

Neste artigo, vamos explicar o que caracteriza o estupro de vulnerável, quais são as principais teses defensivas e como agir diante de uma acusação desse tipo.


1. O Que é Estupro de Vulnerável


O estupro de vulnerável está previsto no artigo 217-A do Código Penal, que estabelece:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§4º Se da conduta resulta morte:

Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

§5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.

Essa norma deixa claro que, para a configuração do crime, não importa se a relação foi consentida ou se existia um relacionamento amoroso.

A lei presume a vulnerabilidade da vítima pela idade, e qualquer ato sexual com menor de 14 anos é considerado estupro de vulnerável.

Além da idade, a lei também protege pessoas que, por doença, deficiência ou qualquer outra condição, não conseguem se defender ou compreender o ato sexual.


2. Consequências de uma Acusação


A acusação de estupro de vulnerável traz impactos profundos, mesmo antes do julgamento:

  • Prisão preventiva: em muitos casos, o juiz pode decretar a prisão antes mesmo da condenação, devido à gravidade do crime.

  • Estigma social: a simples acusação pode gerar preconceito, afastamento de amigos, familiares e até perda de emprego.

  • Processo doloroso: as audiências envolvem depoimentos emocionais e muitas vezes conflituosos.

  • Risco de condenação elevada: as penas previstas são severas e podem chegar a 30 anos, dependendo do caso.

Diante disso, é essencial ter defesa técnica especializada, com um advogado experiente em crimes sexuais e defesa penal.

3. Direitos do Acusado

A Constituição Federal assegura que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 5º, LVII).

Além disso, garante o direito à ampla defesa e ao contraditório, permitindo que o acusado apresente provas, testemunhas e tenha acompanhamento jurídico em todas as etapas do processo.

Importante:

O acusado não é obrigado a falar sem a presença do advogado, podendo exercer o direito ao silêncio, sem que isso seja interpretado como confissão.


4. Principais Teses de Defesa


Cada caso deve ser analisado individualmente, mas algumas teses são recorrentes em acusações de estupro de vulnerável.


4.1. Erro de Tipo (Desconhecimento da Idade da Vítima)


O artigo 20 do Código Penal prevê que o erro sobre elemento constitutivo do crime pode excluir o dolo.

"O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei."

Na prática, significa que se o acusado não sabia e não tinha como saber que a vítima era menor de 14 anos, ele pode ser absolvido, pois não houve intenção criminosa.

Um exemplo clássico ocorre quando a vítima aparenta ser mais velha, frequenta ambientes adultos e declara idade superior à real.

Jurisprudência importante:

"A existência de fundadas dúvidas sobre a consciência do acusado acerca da idade da vítima em razão da precocidade por ela demonstrada configura erro de tipo inevitável, que torna a conduta atípica."

Nesse caso, o tribunal absolveu o réu, pois, embora comprovada a prática do ato sexual e a idade da vítima, não havia prova de que ele soubesse que ela era menor de 14 anos.

O julgamento destacou que fatores como aparência física, comportamento maduro e idade muito próxima dos 14 anos podem indicar erro de tipo inevitável.

Essa decisão reforça a necessidade de analisar o contexto em que os fatos ocorreram.

4.2. Falta de Provas Robustas

Nos crimes sexuais, muitas vezes não há testemunhas ou registros materiais, o que torna a palavra da vítima elemento central.

Contudo, a palavra da vítima, sozinha, não pode fundamentar uma condenação, se não estiver em harmonia com outras provas.

O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça entendem que a condenação deve ser baseada em provas consistentes, respeitando o princípio do in dubio pro reo (na dúvida, decide-se a favor do réu).


4.3. Atipicidade Material (Exceção Romeu e Julieta)


Em casos de relacionamento entre adolescentes ou jovens com pouca diferença de idade, a jurisprudência tem admitido relativizar a aplicação do artigo 217-A, analisando a situação social concreta.

Essa é a chamada “exceção Romeu e Julieta”, em que o juiz pode entender que não há relevância penal na conduta, evitando punições desproporcionais.


5. Estratégias de Defesa no Processo


Uma defesa eficaz começa com uma análise técnica minuciosa do processo. O advogado deve:

  • Verificar se houve irregularidades na coleta de provas;

  • Avaliar a coerência dos depoimentos da vítima e testemunhas;

  • Solicitar perícias psicológicas e técnicas para esclarecer os fatos;

  • Produzir contraprovas, como mensagens, registros e testemunhas;

  • Impugnar provas obtidas de forma ilegal.

Além disso, o advogado deve atuar de forma estratégica em audiências, formulando perguntas que revelem inconsistências na narrativa acusatória.


6. Quando Procurar Ajuda Jurídica


Assim que houver qualquer indício de investigação ou acusação, é essencial procurar um advogado criminalista especializado.

Esse profissional orientará sobre como se comportar, quais provas reunir e como proteger os direitos do acusado.

Quanto antes a defesa for estruturada, maiores as chances de um resultado positivo.


Conclusão


Ser acusado de estupro de vulnerável é uma experiência devastadora, mas a acusação não significa culpa.

Com uma defesa técnica bem elaborada, é possível demonstrar a verdade dos fatos, apresentar teses jurídicas adequadas e assegurar um julgamento justo.

O processo deve sempre respeitar os direitos constitucionais, garantindo que ninguém seja condenado sem provas robustas e irrefutáveis.

Se você ou alguém que você conhece está enfrentando uma situação como essa, procure imediatamente um advogado especializado. A atuação rápida e qualificada pode ser decisiva para o futuro do processo.


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Referência:


PEIXOTO, David Vinicius do Nascimento Maranhão. Defesa no crime de estupro de vulnerável: aspectos principais dos crimes contra a dignidade sexual e estratégias de defesa em casos de estupro de vulnerável. Disponível em: https://nascimentopeixotoadv.com.br/artigos/Direito%2520Penal/artigo/Defesa%20no%20crime%20de%20estupro%20de%20vulner%C3%A1vel. Acesso em: 5 set. 2025.

Publicado em: 2025-09-05

Última modificação: 2025-09-05

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