David Vinicius do Nascimento Maranhão
Receber a notícia de que você está sendo investigado ou acusado de estupro de vulnerável é uma situação desesperadora e repleta de incertezas. Esse tipo de crime, previsto no artigo 217-A do Código Penal, é considerado hediondo e possui penas severas, além de gerar forte impacto social, profissional e familiar.
Neste artigo, vamos abordar passo a passo o que fazer diante de uma acusação dessa natureza, explicando como funciona o processo, quais são os seus direitos e como buscar uma defesa eficaz.
Nosso objetivo é oferecer informações claras e práticas para que você saiba como agir imediatamente e não cometa erros que possam prejudicar sua defesa.
O artigo 217-A do Código Penal estabelece:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos. Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
A lei também considera vulneráveis pessoas que, por enfermidade ou deficiência mental, não têm discernimento para consentir com o ato, ou que não podem oferecer resistência por qualquer motivo.
Ponto importante:
O consentimento da vítima não exclui o crime.
Não importa se havia relacionamento amoroso ou se a vítima já tinha vida sexual ativa.
Basta a comprovação da idade ou da vulnerabilidade para caracterizar o delito.
A primeira reação diante de uma acusação tão grave costuma ser o desespero, mas é fundamental manter a calma e agir de forma estratégica. Veja o que deve ser feito:
Muitas pessoas, por nervosismo, acabam prestando depoimentos sem orientação jurídica, o que pode gerar autoincriminação. Você tem o direito ao silêncio e de só responder perguntas com seu advogado presente.
Art. 5º, LXIII, Constituição Federal: “O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.”
Procure imediatamente um advogado criminalista com experiência em crimes sexuais. Esse profissional saberá analisar o caso, avaliar as provas e traçar uma estratégia de defesa personalizada.
Dica prática: Escolha um advogado que já tenha atuado em casos semelhantes e que conheça bem a dinâmica dos tribunais locais.
Tudo que possa comprovar a sua versão dos fatos é importante.
Mensagens de texto e áudio;
Conversas em redes sociais;
Fotos, vídeos ou registros que demonstrem o relacionamento ou a interação com a suposta vítima;
Testemunhas que possam confirmar sua narrativa.
Esses elementos podem ser cruciais para demonstrar contradições na acusação.
Cada caso é único, mas algumas teses defensivas são frequentemente utilizadas nos tribunais.
Em muitos casos, o acusado não sabia que a vítima era menor de 14 anos. Quando a pessoa aparenta ser mais velha e frequenta ambientes adultos, pode ocorrer o chamado erro de tipo, previsto no artigo 20 do Código Penal.
“O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.”
Se for comprovado que o acusado não tinha como saber a verdadeira idade, não há intenção criminosa e a absolvição pode ser alcançada.
“A existência de fundadas dúvidas sobre a consciência do acusado acerca da idade da vítima em razão da precocidade por ela demonstrada configura erro de tipo inevitável, que torna a conduta atípica.”
A palavra da vítima tem grande peso em crimes sexuais, mas não pode ser o único elemento de condenação. Se não houver outras provas que confirmem a narrativa, a defesa pode invocar o princípio do in dubio pro reo (na dúvida, a decisão deve favorecer o réu).
Quando existe um relacionamento consensual entre adolescentes ou jovens com pouca diferença de idade, os tribunais podem reconhecer a atipicidade material.
Essa exceção evita que situações de namoro juvenil sejam tratadas da mesma forma que casos de abuso efetivo.
Exemplo: Um relacionamento entre um adolescente de 16 anos e uma jovem de 13 anos pode ser analisado de forma diferente, desde que comprovada a proximidade etária e a ausência de violência.
Entender como funciona o processo pode ajudar a reduzir a ansiedade e preparar a defesa.
Nesta fase, a polícia coleta provas, ouve testemunhas e reúne elementos para decidir se haverá denúncia.
Importante:
O advogado pode acompanhar todos os atos.
É possível apresentar provas já nessa etapa.
Se o Ministério Público entender que existem indícios suficientes, ele oferecerá denúncia, iniciando oficialmente o processo penal.
Durante as audiências, serão colhidos depoimentos da vítima, do acusado e das testemunhas. O advogado deve estar presente para formular perguntas estratégicas e defender os interesses do cliente.
Após a análise de todas as provas, o juiz dará a sentença, que pode ser condenatória ou absolutória. Se houver condenação, ainda existe a possibilidade de recorrer a instâncias superiores.
Nunca tente conversar com a vítima ou familiares sobre o caso. Isso pode ser interpretado como tentativa de intimidação.
Não faça publicações nas redes sociais sobre a acusação ou sobre o processo.
Siga à risca as orientações do advogado.
Evite se expor publicamente, principalmente em ambientes em que o caso possa ser comentado.
Ser acusado de estupro de vulnerável é uma experiência extremamente difícil, mas não significa que você será condenado. Com uma defesa técnica eficiente, é possível demonstrar a verdade, questionar provas frágeis e proteger os direitos garantidos pela Constituição.
O mais importante é agir rapidamente, buscar um advogado especializado e não tomar decisões sem orientação profissional. Cada passo dado de forma correta pode fazer a diferença no resultado final do processo.
PEIXOTO, David Vinicius do Nascimento Maranhão. Estou sendo acusado de estupro de vulnerável: entenda o crime e como se defender. [S.l.]: nascimentopeixotoadv.com.br, 5 set. 2025. Disponível em: https://nascimentopeixotoadv.com.br/artigos/Direito%2520Penal/artigo/Estou%20sendo%20Acusado%20de%20Estupro%20de%20Vulner%C3%A1vel%3A%20Entenda%20o%20Crime%20e%20Como%20se%20Defend
Publicado em: 2025-09-05
Última modificação: 2025-09-05