David Vinicius do Nascimento Maranhão
O desconto indevido em benefício previdenciário é uma prática que viola diretamente o direito à dignidade da pessoa humana e compromete a subsistência de aposentados e pensionistas, que muitas vezes dependem integralmente desses valores para sua sobrevivência. Nesses casos, o ordenamento jurídico reconhece que não se trata apenas de uma questão patrimonial, mas de uma ofensa à esfera moral do indivíduo, capaz de gerar indenização.
Surge, nesse cenário, a aplicação da teoria do desvio produtivo, que prevê a reparação quando o cidadão é obrigado a desperdiçar seu tempo e esforço para solucionar problemas que não deu causa. Embora inicialmente desenvolvida no âmbito do direito do consumidor, essa teoria tem sido estendida a situações civis em que há clara desproporção de forças, garantindo proteção efetiva contra práticas abusivas.
Em recente julgamento, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal reconheceu o direito de uma aposentada indenizada após descontos indevidos em seu benefício previdenciário, a título de contribuição associativa sem qualquer anuência.
A corte destacou que a autora, idosa e hipossuficiente, sofreu não apenas um prejuízo material, mas também o desgaste emocional e a perda de tempo útil para tentar reaver os valores indevidamente subtraídos. O entendimento foi de que a conduta ilícita extrapolou o mero inadimplemento contratual e caracterizou violação a direitos da personalidade.
O tribunal analisou que, embora a teoria do desvio produtivo esteja consolidada em relações de consumo, sua aplicação pode se estender a contextos de vulnerabilidade civil. Isso porque a essência dessa teoria está em reconhecer o valor do tempo e a frustração causada pela necessidade de lidar com problemas criados por terceiros.
No caso, a vítima foi obrigada a mobilizar energia, tempo e recursos para resolver uma situação injusta, o que justificou a indenização. Esse entendimento amplia a proteção jurídica de aposentados e pensionistas diante de práticas abusivas de entidades ou instituições financeiras.
O Código Civil, ao tratar dos contratos de adesão e da boa-fé objetiva, prevê que nenhuma parte deve se aproveitar da vulnerabilidade da outra. Ao mesmo tempo, a Constituição Federal e o Estatuto do Idoso reforçam a proteção especial a esse grupo, assegurando respeito à sua dignidade.
A decisão analisada deixou claro que a cobrança sem consentimento viola esses princípios e afronta a liberdade negocial, configurando dano moral indenizável. Assim, reafirma-se a necessidade de responsabilidade civil em casos de abusos contra pessoas em situação de fragilidade econômica e social.
A decisão do TJDFT consolida a ideia de que o tempo e a tranquilidade do indivíduo possuem valor jurídico, especialmente quando se trata de pessoas idosas, para as quais a perda de tempo e o desgaste emocional podem ser ainda mais gravosos. O reconhecimento do dano moral em casos de descontos indevidos é um avanço na proteção da dignidade e no combate a práticas abusivas.
Em situações semelhantes, é fundamental que o cidadão busque seus direitos, pois a Justiça tem se mostrado firme em garantir reparação e coibir condutas lesivas. Caso você ou um familiar esteja enfrentando problemas como descontos indevidos em aposentadoria ou pensão, é recomendável procurar orientação jurídica especializada para análise do caso e adoção das medidas cabíveis.
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Publicado em: 2025-09-29
Última modificação: 2025-09-29